A literatura não discute apenas a questão moral da violência doméstica, vai além, ela questiona a relação violência e defesa da honra masculina. A violência é usada como justificativa para o controle do poder e a defesa da honra.
E a escritora brasileira Clarice Lispector desmistifica esse crime, expõe as “sutilezas” do assédio sexual e da violência doméstica. Em “A moça tecelã”, nossa primeira postagem, a origem do corpo da mulher é contada, de forma metafórica, como parte do corpo masculino, e faz menção ao cárcere privado.
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Em “Venha ver o pôr do sol”, de Lygia Fagundes, há a relação violência e cultura patriarcal. Desvenda o fascismo pregoado pelo feminicídio, questionando a honra masculina, quando Ricardo não aceita o rompimento do relacionamento. Por fim, Clarice Lispector coloca no “mesmo trem” violência sexual e feminicídio, em “A língua do P” , a próxima postagem em homenagem e como reflexão nesta semana da mulher.
O conto “Venha ver o pôr-do-sol” trata da história de Ricardo e Raquel, um casal de ex-namorados. A partir do momento em que terminam o namoro, e Ricardo, inconformado com a separação, e por conhecer muito bem o espírito aventureiro de Rachel, resolve convidá-la para um último encontro em um cemitério abandonado.
Chegando lá, Ricardo executa a sua vingança de forma macabra, trancando Rachel em uma tumba e abandonando-a lá pelo tempo necessário para que ela morra, e assim, pague pelo erro de ter se separado dele.
Com um nó na garganta o leitor termina o conto, pois a autora se aproveita de um tema comum que é a relação entre homem e mulher, para desenvolver um tema um tanto incômodo, a vingança. Como em outros contos, apresenta-se no conto o interior das personagens, traz à tona o outro lado do ser humano, aquele que muitas vezes fica escondido e é ignorado. Em outros contos da autora pode-se presenciar este jogo entre amor e morte, a presença da tensão emocional na narrativa, que é ainda mais intensificada por diálogos bem elaborados e complexos. Talvez seja este o conto de maior notoriedade de Lygia Fagundes Telles.
Segundo Faria (FARIA, 2009 p. 02), a respeito da morte desenvolvida nas tramas de Lygia Fagundes Telles, nota-se em alguns que o tema se torna latente, em outros acentua-se o clima mórbido, como se a autora fosse, além do suspense e da tensão, ressaltar a profundidade da alma humana, intensificar o caráter trágico da vida. Ora a morte é intensificada e supervalorizada, ora apresenta-se com um tom de obviedade, chegando à banalização.
Já segundo Coelho (COELHO, 1971, p. 89) há um outro elemento importante para a compreensão do desenrolar da história: o título. Apresentando uma conotação simbólica sobre a vida, a autora a compara com o sol. Sendo assim, o título apresentaria duplo sentido, significando o fim da vida, a morte. Traz, portanto, um prenúncio da tragédia que acontecerá, quando a protagonista é convidada para contemplar seu próprio fim. Simbolicamente, este fato é dado pelo TEMPO escolhido para o desenvolvimento da narrativa: o pôr do sol.
A linguagem do conto não é difícil, e na maior parte do conto se dá através de diálogos entre Ricardo e Raquel. O tempo é breve, resumindo-se ao momento em que os dois estão no cemitério até o momento em que Raquel é trancada na tumba e Ricardo vai embora. O espaço é o cemitério, onde toda a história se passa. O narrador é em terceira pessoa e é observador.
Fontes:
http://www.algosobre.com.br/resumos-literarios/venha-ver-o-por-do-sol-e-outros-contos.html
http://saladeestudos.com/material/lygia-fagundes-telles-venha-ver-o-por-do-sol.pdf
http://contosdobrasil.arteblog.com.br/233804/Venha-ver-o-por-do-sol-Lygia-Fagundes-Telles/
http://www.essaseoutras.xpg.com.br/resumo-venha-ver-o-por-do-sol-e-outros-contos-lygia-fagundes-telles/
Em todas as obras analisadas percebemos questões simbólicas antes de tratarem da violência contra a mulher. Há impregnada na cultura o assédio moral e sexual, caracterizados como normas que afligem às mulheres.
.Sem controle, o homem, por motivos TORPES, é capaz de cometer homicídio, concretizando o feminicídio.
.A literatura brasileira de autoria feminina questiona a violência contra mulher, irreverência o deslocamento social da mulher, faz oposição à ordem vigente. E é aqui que a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) ganha destaque, vez que busca a proteção das mulheres, e tem o intuito de extinguir a cultura da honra. Sua finalidade é “criar mecanismo para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher”.
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Fonte: GOMES, Carlos Magno. Marcas da violência contra a mulher na literatura. Revista Diadorim / Revista de Estudos Linguísticos e Literários do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Volume 13, Julho 2013.
[http://www.revistadiadorim.letras.ufrj.br]