Cine Direito: Sociedade dos Poetas Mortos

 Se perguntarmos qual é uma das principais preocupações da sociedade humana, em diferentes momentos históricos e civilizações, muitos responderão “Educação”. Hoje em dia muito se reflete sobre este modelo de educação que não nos faz despertar para o nosso lado mais humano, mas que se confunde com um repasse de informações, e talvez por isso o filme A Sociedade dos Poetas Mortos é assistido e reassistido ainda hoje, sendo muito eficaz em nos tocar profundamente com sua mensagem e com a beleza de sua história.

O filme americano de 1989, direção de Peter Weir e protagonismo de Robin Williams no papel do Prof. Keating, em atuação magistral e vencedora de vários prêmios, conta a história, que se passa em 1959, deste professor de poesia e ex-aluno de uma escola preparatória para jovens, a Academia Welton, na qual predominam valores conservadores repassados de forma autoritária aos alunos, traduzidos em quatro pilares: Tradição, Honra, Disciplina, Excelência.

O professor Keating é chamado para substituir um professor aposentado da matéria de Literatura e a partir daí começa a aplicar seu método nada ortodoxo de ensino, que logo percebemos, até mesmo pela reação dos alunos, que é muito distante daquilo que é vivenciado nos corredores da escola preparatória.

 Através da leitura de poemas de Lord Byron, Shakespeare, Henry David Thoreau, Walt Whitman e de muitas dinâmicas para além do espaço da sala de aula, o prof. “Oh! Captain! My Captain”, como deseja ser chamado, inspirado por um dos poemas de Whitman,  incentiva os alunos a pensarem por conta própria, a colocarem suas vozes no mundo, a encontrarem sua identidade, a aproveitar o dia (a famosa frase Carpe Diem), a desenvolverem crítica e discernimento.

 Carpe diem. Aproveitem o dia, meninos. Façam suas vidas extraordinárias”

 Inspirados pelas Ideias profundas do professor, e pelo seu exemplo, alguns alunos acabam por ressuscitar “A sociedade dos Poetas Mortos”, grupo que outrora o próprio professor Keating frequentava e que consistia em reuniões em um local secreto para não só ler poesias, mas para falar sobre aquilo que nos dá motivos para estarmos vivos, segundo as palavras do heróico professor.

“Não lemos e escrevemos poesia porque é bonitinho. Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana e a raça humana está repleta de paixão. Medicina, lei, negócios e engenharia são ocupações nobres para manter a vida. Mas poesia, beleza, romance e amor são razões para ficar vivo.”

A nova versão da Sociedade então era formada pelos personagens Todd A. Anderson (Ethan Hawke), Neil Perry (Robert Sean Leonard), Steven K. C. Meeks Jr. (Allelon Ruggiero), Charlie Dalton (Gale Hansen), Knox T. Overstreet (Josh Charles), Richard S. Cameron (Dylan Kussman e Gerard J. Pitts (James Waterston). Todos esses jovens atores se tornaram bastante prestigiados pela excelente atuação neste filme que marcou gerações.

Além das boas atuações, “Dead Poet Society” conta ainda com a eficiente direção de Peter Weir. Ele alterna entre os lindos planos no exterior da escola, aproveitando a beleza do local, do casarão antigo e do verde da paisagem, com o uso freqüente do recurso de close nas imagens, que realça as reações dos alunos às palavras do professor, utilizando a câmera para transmitir os sentimentos ali vivenciados.

A força principal de “Sociedade dos Poetas Mortos” reside mesmo no bom roteiro de Tom Schulman que, através das pequenas mensagens motivacionais, durante todo o filme (como a famosa cena em que o prof. Keating sobe na mesa e diz para os alunos verem as situações da vida sempre por outros pontos de vista), faz com que a gente sinta uma enorme vontade de aproveitar a vida, carpe diem, dar o melhor de nós mesmo, buscando a realização dos nossos sonhos.

Outro dos grandes méritos do longa é despertar o interesse e prazer pela literatura. Depois de passarmos as duas horas do filme nos deleitando com trechos de obras de tão grandes escritores, tamanha beleza e profundidade resgata em nós a importância de ler bons livros quando se fala em alimentar nossa alma humana.

Todo este despertar dos sonhos nos alunos, este pensamento crítico que nasce e que resolve ter voz, gera inúmeras colisões em situações no cotidiano da Escola, seja sobre a presença ou não de alunos do sexo feminino, seja na discordância em relação ao futuro profissional imposto pelos pais e professores tradicionais da Academia. Neste momento, o filme mostra o quanto a rigidez no método de ensino e na criação dos filhos servia apenas para causar temor naqueles jovens, inibindo qualquer manifestação de talento que pudesse surgir.

“Garotos, vocês devem se esforçar para encontrar suas próprias vozes. Porque quanto mais vocês esperarem para começar, menos provável que vocês possam encontrá-la. Thoreau disse: ‘A maioria dos homens leva uma vida de desespero silencioso’. Não se rebaixem a isso. Saiam!”

Um dos jovens, Neil (Robert Sean), entusiasmado com a possibilidade de realizar seus sonhos, resolve tornar-se ator. No entanto, a sua criação rigorosa parece ser um impedimento, e o garoto, reprimido pelo pai, acaba por suicidar-se. O fim trágico de um aluno tão especial gera consequências, que já pressentimos ao assistir a bela e triste cena em que Neil tira a própria vida. O diretor resolve punir o professor Keating por entender que seus métodos estimulam a rebeldia nos jovens alunos, demite-o, dando um fim à Sociedade dos Poetas Mortos.

A cena final do filme, no entanto, uma das mais belas e icônicas, prova que nem mesmo a demissão poderá apagar as experiências vivenciadas por aqueles jovens. Quando o professor vai a sala de aula buscar as suas coisas no armário é recebido calorosamente, primeiramente por um dos alunos que apresentava maior dificuldade, seguido depois por outros, eles sobem na mesa repetindo o gesto que o professor fizera em uma de suas aulas proferindo “Oh Captain! My Captain!”, aí fica claro que as marcas daquilo que viveram, as Ideias, os Sentimentos, permanecerão naqueles que lá estiveram. O professor Keating mudou a vida daqueles alunos para sempre.

Selecionamos abaixo algumas frases do filme que marcaram e que merecem um destaque:

“Na vida há tempo para se arriscar e tempo para ser cauteloso, e um homem sensato sabe qual é a altura certa para cada uma destas coisas.”

“Quando você pensa que conhece alguma coisa, você tem que olhar de outra forma. Mesmo que pareça bobo ou errado, você deve tentar!”

“Vocês estão vendo estas fotos meninos?

Os jovens que estão nesses quadros planejam revolucionar o mundo e transformar suas vidas em algo magnífico. Isso foi há 70 anos. Agora estão todos mortos. Quantos tiveram uma vida realmente feliz? Quantos realizaram seus sonhos?

Aproveitem o seu dia. Vivam o presente.

Confiança é saber que somos limitados, que não podemos adivinhar o que está por vir, que jamais controlaremos todas as ‘possibilidades’ e que nossa única saída é viver intensamente a realidade, seja boa ou ruim.”

“Não importa o que dizem a você, palavras e idéias podem mudar o mundo.”

“Todos nós temos uma grande necessidade de aceitação, mas vocês devem confiar que suas crenças são únicas, suas próprias. Mesmo que as pessoas as achem estranhas ou impopulares, mesmo que todos forem embora.”

“Duas estradas se divergiam na floresta e eu, eu tomei o caminho menos percorrido, e isso fez toda a diferença.”

Ficha Técnica

Título: Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society)

Ano: 1989

Dirigido por: Peter Weir

Duração: 128min

Gênero: Drama

País de Origem: EUA

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