Neste conto, é relatado um acontecimento ocorrido com Cidinha, uma professora de inglês, que morava em Minas Gerais e naquele dia pegaria o trem para ir até o Rio de Janeiro. Ao pegar o trem, Cidinha se depara apenas com uma senhora dormindo em um canto, assim que parou na próxima estação, dois homens subiram e sentaram de frente a ela.
A partir do momento em que esses dois homens subiram no trem, Cidinha começou a sentir um incômodo, e uma sensação ruim devido a algo que ela também não sabia explicar. No momento que ela pensou em sua virgindade enquanto olhava aqueles dois homens a olhando, fica claro que o incômodo que ela sentira dizia a respeito do que eles poderiam fazer com ela. A partir de um certo momento os dois homens começaram a conversar, porem a conversa soava diferente, eles estavam falando a língua do “P”, Cidinha conseguia entender tudo que eles estavam falando pois ela, quando criança, usava essa língua para brincadeiras etc.
Fingindo não entender nada, Cidinha começa a escutar a conversa, onde os dois homens dizem que iriam currá-la no túnel e que se ela resistisse iriam matá-la. Ao perceber o risco que estava correndo, a única saída que ela consegue pensar no momento era fingir que era prostituta a eles, e então começa a abrir a roupa e dançar, de forma a seduzi-los. Ambos começaram a rir e o bilheteiro do trem, ao ver tal situação, avisa ao maquinista o que havia acontecido e ele a expulsa do trem na próxima estação no qual pararam, e ao descer, além de ser humilhada por quem estava no trem, incluindo os dois homens que estavam sentados de frente a ela, uma mulher, a olhou com olhar de julgamento, com desprezo, e logo subiu no trem que partiu em seguida.
A notícia depois foi que, essa mulher que subiu no trem logo que Cidinha foi expulsa, foi currada no trem e assassinada.
O termo currada usado no conto significa mulher que é violentada por dois ou mais homens, e isso é uma prática que infelizmente está muito presente na vida de muitas mulheres. Todos os dias, um grande número de mulheres, jovens e meninas são submetidas a alguma forma de violência, no Brasil e no mundo.
Podemos enxergar no conto, o machismo presente na situação, pois em momento algum pararam para escutar o que ela tinha a dizer, apenas a julgou pelo que viram e a expulsaram dali, a tratando como uma prostituta e que por isso, merecia ser tratada de tal forma, o que já é errado, pois sendo prostituta ou não, um ser humano, seja quem for, homem ou mulher, deve ser tratado com respeito.
A violência contra mulheres mostra as desigualdades que são historicamente construídas, que estão presentes no campo social, político, cultural e econômico. A incompreensão sobre as desigualdades e as relações de poder que são construídos e associados ao gênero feminino e masculino, traz a gravidade do problema pois é ai que a negação a respeito dos direitos de cada um é ignorado, gerando mais violência.
Enquanto houver a ignorância nas pessoas, sejam elas homens ou mulheres, desigualdades e violências vão se tornar cada vez mais frequentes, é fundamental desnaturalizar papéis onde possa construir uma cultura onde há o respeito aos direitos humanos das mulheres e toda a diversidade.
Referências:
ARENDT, H. 1994. Sobre a violência. Editora Relume-Dumará, Rio de Janeiro.
ASSIS SG 1999. Traçando caminhos em uma sociedade violenta. Fiocruz, Rio de Janeiro.
LISPECTOR, Clarice. 1998. A língua do “P”. Rio de Janeiro.