Advogado de escritório ou de empresa?

Os estereótipos dos advogados de escritório e de advogados internos de empresas são uma fonte inesgotável de piadas e provocações de ambos os lados.

Apesar de servirem seu propósito humorístico, esses estereótipos podem ser pouco produtivos no ambiente profissional. De um lado, gestores perdem talentos porque dão demasiada importância à experiência em uma dessas áreas e, de outro, profissionais deixam de explorar oportunidades baseados em premissa equivocada de que não se adaptariam à nova realidade.

Existe uma percepção difundida – e na minha opinião equivocada – de que uma vez que o profissional se especializa como advogado de empresa ou de escritório é incapaz de atuar na outra.

Não é incomum ouvir-se advogados internos de empresas, que em algum momento já trabalharam em escritório, afirmarem que jamais voltariam para aquela rotina, ao mesmo tempo que advogados de escritório afirmam que o trabalho de advogados internos não é intelectualmente estimulante.

Em conversas mais aprofundadas sobre o tema, no entanto, percebo que esse tipo de opinião não vem necessariamente de características do trabalho de advogados de empresa ou de escritório em termos gerais, mas de experiências ruins que a pessoa teve em determinados ambientes de trabalho que decorreram de características específicas de determinadas organizações.

Os escritórios não são todos iguais e a mesma lógica vale para empresas. O ambiente de trabalho é muito influenciado pela cultura da instituição.

Há empresas com ambientes extremamente formais e estruturados e escritórios com culturas abertas e descentralizadas e vice versa. Há escritórios imensos em que o relacionamento interpessoal é restrito e empresas multinacionais com departamentos jurídicos reduzidos e com alta interação entre seus membros.

Tive a oportunidade de trabalhar em escritórios e em empresa em diferentes posições e as experiências ruins que tive estavam ligadas à cultura de uma determinada equipe ou departamento.

Apesar de a especialização e experiência em situações específicas serem relevantes, uma sólida formação conceitual torna possível a adaptação a diferentes ambientes. Seja para advogados de escritório, seja para advogados de empresa, conhecer o Direito permite que o profissional aplique conceitos abstratos a diferentes situações concretas, sejam elas no ambiente corporativo, seja em escritórios de advocacia.

Qualquer profissional sabe que conhecimentos conceituais sem aplicação prática são de pouca valia, de forma que a experiência e especialização setorial são muito importantes, mas a ideia de que esses seriam condições intransponíveis me parece absolutamente equivocada.

Quando se passa a analisar algumas das características desses estereótipos – os advogados de empresa conhecem de perto o lado do negócio, conhecem um pouco de todas as áreas do direito que impactam a atividade em que a empresa atua e os advogados de escritório como especialistas descolados das realidades práticas do negócio, por exemplo – constata-se que essas características são elementos assessórios que podem ser desenvolvidos e aprimorados com mais facilidade do que corrigir uma formação insuficiente em Direito.

Após iniciar minha carreira trabalhando por quinze anos em escritórios, a transição para trabalhar no departamento jurídico de uma empresa foi extremamente desafiadora, porque envolveu um grande investimento de tempo em conhecer a fundo o negócio da empresa e os seus processos internos. Há, também, o desafio de criar novas relações, conhecer as pessoas chaves em cada processo e o seu papel de facilitador do negócio.

Por outro lado, a ferramenta principal – o Direito – continuava a mesma e a experiência profissional anterior foi de grande valia nessa adaptação.

Minha recomendação para gestores é estar aberto a contratar pessoas que não tenham experiência no seu campo específico desde que mostrem sólidos conhecimentos na área do direito buscada. Para os profissionais: não se desamine com estereótipos e encontre uma atividade que te desafie e satisfaça. O fato de ser em um escritório ou em uma empresa é apenas um entre diversos fatores a ser considerados na sua decisão.

Advogado de escritório ou de empresa?