Literatura digital

Qual a diferença da literatura digital para a literatura tradicional?

Literatura digital é aquela obra literária feita especialmente para mídias digitais, impossível de ser publicada em papel, pois utiliza ferramentas próprias das novas tecnologias, como animações, multimídia, hipertexto, construção colaborativa. Claro que um projeto de literatura digital não contém tudo isso ao mesmo tempo, assim como um filme pode prescindir dos efeitos visuais ou usá-los de forma comedida. Cada projeto de literatura digital tem uma forma de lidar com essas ferramentas, considerando a limitação do autor ou da equipe de criação e, principalmente, o efeito estético pretendido com a obra.

A literatura digital significa o fim do livro impresso?

Acreditamos que a literatura digital é um novo gênero literário que irá conviver com os gêneros tradicionais assim como o cinema convite com o teatro e a pintura convive com a fotografia. Em nosso Manifesto está escrito que não queremos que um usuário largue um livro para ler literatura digital, e sim que ele largue por 10 minutos seus joguinhos ou redes sociais e leia um projeto de literatura digital. Dessa forma, a literatura digital pode inclusive ajudar na formação de leitores para livros impressos.

Qual a diferença da literatura digital para um e-book?

O conceito consagrado de e-book atual é um livro digitalizado. Ou seja, tem as mesmas características de um livro em papel (em geral é o mesmo texto do livro em papel), mas vendido, distribuído e lido em uma mídia digital. Já um projeto de literatura digital requer a mídia digital para ser lido, não seria possível ler um ciberpoema no papel, por exemplo. Dessa forma, o e-book é um concorrente do livro, mas falando aqui de plataformas, não de gêneros literários. O romance, o conto e o poema podem existir no livro em papel ou no livro eletrônico, e-book.

Por que literatura digitalizada não é literatura digital?

Hoje, se colocarmos no Google o termo “literatura digital”, o primeiro resultado será um site de Literatura Brasileira da UFSC (http://www.literaturabrasileira.ufsc.br). O site, como você poderá perceber, tem em seu título “Literatura Digital”, pois compilou para o meio digital milhares de obras e documentos. Entretanto, como escrito na pergunta anterior, essas obras e documentos foram digitalizados, então o termo correto seria Literatura Digitalizada, e não digital. Dizer que um Dom Casmurro publicado em HTML é livro digital é o mesmo que filmar uma peça de teatro e chamar a isso de cinema. Não! Nada mais chato que teatro filmado… O cinema tem sua própria linguagem, sua própria estética, e a literatura digital também requer outro olhar, outra estética.

Vale ressaltar que não está se criticando o trabalho da UFSC, uma pioneira no estudo acadêmico das possibilidades do meio digital para a produção de literatura. O professor Alckmar Luiz dos Santos, por exemplo, tem um belo trabalho acadêmico sobre o tema e inclusive poemas digitais, um deles publicado na revista Artéria 8, uma das pioneira em literatura digital no Brasil. O nome do site, na verdade, revela a confusão terminológica natural de mídias e tecnologias que chegam em uma velocidade espantosa. E exatamente consolidar essa terminologia um dos objetivos do nosso movimento, do grupo e do site.

Existe literatura digital para iPad, Android, Kindle, etc?

Primeiramente, é preciso separar iPad, Android e Kindle. O Kindle, pelo menos originalmente, é um leitor de livros digitalizados, e-books. Dos melhores, por sinal. Ele foi sem dúvidas o e-reader (leitor de e-books) de maior sucesso no mundo. Mas aí veio o iPad, que é um tablet com formato semalhante ao do Kindle, e mudou o mercado, pois ele permite, além de mil e uma outras coisas, a leitura de livros.Como se sabe, o iPad é da Apple, a empresa da maçã, e para concorrer com ela o Google criou um sistema operacional, o Android, que roda em tablets de diversas marcas (como o Samsung Galaxy). Ou seja, o Android é um programa que roda em tablets, concorrente do iOS, que é o programa do iPad.

Bem, afora as questões técnicas, deu para entender que o Kindle é diferente do iPad e dos aparelhos que rodam Android. Agora, reformulando a pergunta, existe literatura digital para tablets ou são todos livros digitalizados, e-books?

Sim, existe. Mas não os livros em formato PDF ou EPUB que se lê nos aplicativos para leitura (iBooks, por exemplo). Os livros digitais, que realmente exploram as ferramentas da nova tecnologia e não podem ser transpostos para o papel, são aplicativos distribuídos individualmente nas lojas de aplicativo. Este, inclusive, foi o tema da tese de doutorado de Marcelo Spalding, idealizador desse site, tese que em breve estará disponível aqui.


Onde mais está se produzindo literatura digital?

O que inspirou a criação desse site foi a ELO – Electronic Literature Organization, dos Estados Unidos. Academicamente, também encontramos importantes grupos de estudos congregando as áreas de literatura e tecnologia, como o Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística (NUPILL), da UFSC, o Núcleo de Pesquisa em Literatura Digitalizada, da UFPI, o Centro de Estudos sobre Texto Informático e Ciberliteratura (CETIC), da Universidade Fernando Pessoa, o grupo espanhol Literaturas españolas y europeas: del texto al hipertexto, da Universidad Complutense de Madri, e o grupo francês Bases, Corpus et Langage, da Université Nice. É necessário, porém, que se faça uma pesquisa mais ampla sobre o tema em países da América Latina e da Ásia, por exemplo, a fim de mapear essa produção, que parece estar surgindo em toda a parte, como ocorreu com o miniconto no final do século XX.


A literatura digital ajuda a formar leitores?

Ao aproximar a leitura e a literatura de alguém que não esteja habituado com livros, mas seja familiarizado com computadores e tablets,  a literatura digital pode, sim, formar leitores, incentivar a leitura, sendo inclusive uma ótima ferramenta para a sala de aula. Entretanto, estudos comprovam que o grande problema da falta de leitura no Brasil é o baixo investimento em educação. Muitos jovens saem das escolas sem a proeficiência de leitura necessária para vencer um romance, por exemplo, e soma-se a isso o desprestígio social da leitura em nosso país. Dessa forma, parece que o que realmente forma leitores é o professor, é a escola, a educação. Mas a literatura digital pode ser uma alidada nesse árduo processo.

Posso transformar meu livro num projeto de literatura digital?

Não é impossível transformar um livro escrito com o intuito de ser publicado em papel em um projeto de literatura digital, mas a simples “conversão” não seria suficiente. Uma análise do texto e dos efeitos pretendidos sobre o leitor pode iniciar um processo de adaptação e recriação que resulte em um projeto de literatura digital. Tem interesse em recriar seu texto como um projeto de literatura digital? Partilhe suas ideias conosco.

Como trabalhar com literatura digital em sala de aula?

Hoje, todas as escolas têm laboratórios de informática que muitas vezes são subutilizados, principalmente por disciplinas como Português ou Literatura. Os projetos de literatura digital, entretanto, são ótimas oportunidades para aproximar os estudantes da linguagem literária, do fazer literário. Nossa experiência mostra que muitos jovens não leitores são fisgados pelo  aspecto lúdico desse tipo de literatura e acabam inclusive citando a literatura digital nas redes sociais e nas conversas em casa. Claro que como tudo é muito novo, a forma pedagógica como trabalhar com a literatura digital em sala de aula ainda está sendo descoberta. Para isso, aliás, criamos no site o Espaço do Professor, com sugestões e relatos de experiências.

http://www.literaturadigital.com.br/?pg=25009

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