Como encontrar literatura científica?

Muitos alunos reclamam que não acham literatura científica sobre seus temas de interesse. Contudo, muitos desses temas têm literatura abundante e uma simples busca no Google prova isso. Se você for um desses alunos com dificuldades, talvez esteja procurando errado. Aqui dou algumas dicas sobre como fazer uma pesquisa bibliográfica eficiente.

Com o advento da Internet, revistas online, buscadores acadêmicos, websites pessoais de cientistas, repositórios de preprints e currículos online, hoje é possível encontrar 99,97% dos trabalhos procurados dentro da literatura científica.

Veja um passo-a-passo sobre como buscar literatura científica:

  1. O mais importante em uma pesquisa bibliográfica é a combinação de palavras-chave (keywords). Portanto, quanto mais você conhecer um tema de interesse, mais intimidade terá com os termos que abrem as portas do conhecimento sobre ele. Aprenda também a usar operadores booleanos como AND e OR, que ajustam sua mira.
  2. Faça suas pesquisas principalmente em buscadores científicos especializados, como Web of ScienceScopusScirusJSTORPubMed e Scielo. Eles variam entre si em termos do número de revistas que indexam e quais critérios usam para incluir ou excluir revistas. Portanto, convém não usar apenas um deles.
  3. Portal Periódicos da Capes pode ser usado para acessar esses buscadores quando você está fora da rede de uma universidade ou instituto de pesquisa. Infelizmente, por causa de mudanças recentes nas regras de acesso, agora mesmo dentro das universidades o acesso aos periódicos indexados em alguns buscadores deve ser feito de forma indireta via Portal Capes.
  4. O  Google Scholar (Google Acadêmico) melhorou muito nos últimos anos. Hoje, na minha opinião, ele se tornou melhor do que os buscadores tradicionais. Além disso, o Google tem acesso livre e não escolhe as revistas que indexa. Melhor ainda, ele indexa também websites, blogs, relatórios, monografias, dissertações e teses: a chamada literatura cinza. Esse escopo mais amplo tem muito mais a ver com o espírito livre da ciência e favorece a liberdade de escolha de fontes. Quando você faz uma busca no Google Scholar, logo abaixo de cada resultado vê uma opção “Todas as XX versões”, onde “XX” é o número de versões do mesmo texto encontradas na internet. Clicando nessa opção você pode conferir se há algum PDF disponível.
  5. Caso você não ache o trabalho desejado em um desses buscadores ou não obtenha acesso a uma determinada revista, procure pelo site pessoal do autor correspondente ou de um dos coautores. Muitos colocam PDFs online hoje em dia ou pelo menos te mandam o PDF por e-mail se você pedir. Também está ficando comum cientistas colocarem PDFs de artigos em currículos online, como Research GateAcademia e Mendeley. Entrar em contato direto com o autor também pode ser bom para o seu networking profissional.
  6. Alguns autores também colocam versões preliminares de seus artigos em repositórios online de preprints, como o ArXiv. Isso é muito comum entre físicos e matemáticos.
  7. Há ainda os repositórios paralelos, como o Sci-Hub. Eles geram muita controvérsia, mas, no fundo, têm ajudado a ciência a se tornar mais acessível. O Sci-Hub é como um “Napster” da Academia: um modelo disruptivo que provoca avanços.
  8. Em se tratando de livros, há sites como o Google Books, onde é possível achar até mesmo trabalhos inteiros em PDF. Faça o download apenas dos que tiverem distribuição gratuita. Dá muito trabalho escrever um livro e autores acadêmicos, além de em geral não ganharem um centavo com livros, muitas vezes ainda pagam os custos editoriais do próprio bolso.
  9. No caso de trabalhos de conclusão de curso (monografias, dissertações e teses), o melhor é consultar o banco de teses da Capes.
  10. Se mesmo assim não tiver conseguido o trabalho desejado na Internet, procure-o fisicamente nas melhores bibliotecas universitárias da sua área. Por exemplo, a biblioteca da Biologia da Unicamp é ótima para artigos, enquanto a biblioteca da Biologia da USP é ótima para livros. Em último caso, ainda há o bom e velho sistema comut de trocas e empréstimos entre bibliotecas universitárias. Converse com algum funcionário da secretaria da sua biblioteca e aproveite enquanto o comutainda não foi extinto.
  11. Só depois de tentar todos esses recursos, faça pedidos de bibliografia aos seus colegas em redes sociais, fóruns, mailing lists etc. Porém, nunca escreva para alguém pedindo “me dê tudo o que você tem sobre o assunto X”. Isso é folga. Ponto. Também não cometa a gafe de ser preguiçoso, não fazer a busca bibliográfica, pedir um trabalho a um autor e depois descobrir que ele está amplamente disponível em uma revista open access.