Em termos geográficos, o sertão é uma vasta faixa territorial que compreende parte de Minas Gerais, mais especificamente sua porção Noroeste, e avança até a divisa dos estados de Goiás e da Bahia. Em sua obra, Guimarães Rosa mostra que o sertão está em toda parte e pode ser encontrado até mesmo dentro da gente.
Inspirado nos múltiplos significados da palavra “sertão”, o Espaço do Conhecimento UFMG dedicou uma exposição digital a essa palavra tão presente na obra do escritor mineiro. Na música, no bordado, na dança, na culinária, nos brinquedos e brincadeiras, nas sonoridades, nas artes visuais ou na literatura, a mostra leva o público a apreciar escutas e vozes em um percurso on-line pelo sertão. Os conteúdos da mostra serão disponibilizados por temporadas: a cada mês, novas atividades e temáticas são adicionadas, e se constrói, assim, uma exposição em constante atualização.
Em entrevista ao programa Universo literário, da Rádio UFMG Educativa, a professora Claudia Campos Soares, da Faculdade de Letras da UFMG, deu mais detalhes da exposição virtual. Conforme explicou, a mostra foi idealizada para explorar a transcendência de fronteiras da obra de Guimarães Rosa, em que o sertão é muito mais que um espaço geográfico, físico, social e cultural delimitado.
Segundo Cláudia Soares, trata-se da primeira exposição promovida pelo museu em formato virtual, o que exigiu reflexão e criatividade para mostrar a multiplicidade do sertão nesse novo ambiente. A curadoria distribuiu o conteúdo em cinco eixos: Reverberações, Infância, Sertão mundo, Natureza e Linguagem.
Graça e Rosa
Um dos destaques da exposição é um texto na voz da própria professora Claudia Soares sobre três crônicas do escritor Graciliano Ramos que analisam um concurso literário em 1938 em que Guimarães Rosa concorreu com o conjunto de contos que se transformaria no seu primeiro livro, Sagarana, oito anos depois. O curioso é que Graciliano fez críticas aos textos que renderam a Guimarães Rosa o segundo lugar no concurso: apontou descrições exageradas da natureza, mas também reconheceu o valor dos escritos e recomendou sua publicação ao editor José Olympio.
“Guimarães escreveu sob pseudônimo e não foi encontrado. Ele já tinha embarcado para a Europa como diplomata. Graciliano se encontrou com ele muitos anos depois, e ele se apresentou como autor daquele livro. Graciliano, muito franco, disse a ele o que pensava do livro, e Guimarães respondeu que já tinha feito muitos cortes, e o livro não era mais tão verborrágico, tinha aprimorado muito a obra. Graciliano fecha, então, a última crônica dizendo que leu o livro na versão definitiva e que Rosa era realmente um grande escritor, que tinha um grande talento para a fabulação e que gostaria muito de ler um romance dele, mas que, como Rosa era muito criterioso, demoraria a publicar – e ele, Graciliano, já estaria morto quando o livro saísse. E foi efetivamente o que ocorreu, dez anos depois, quando foi publicado Grande sertão: veredas. Graciliano Ramos, infelizmente, já tinha falecido”, contou.
Ouça a entrevista pelo Soundcloud.
Poemas
Outra atração de Sertão mundo é o concurso de poemas O céu do sertão. Foram 234 poemas enviados por autores de 117 cidades, localizadas em 22 estados das cinco regiões do Brasil. Os três vencedores foram anunciados em live transmitida pelo canal do Espaço do Conhecimento no YouTube. Os poemas serão projetados na fachada digital do Espaço do Conhecimento como parte da exposição. Além disso, trechos deles ou mesmo as versões integrais dos textos serão apresentados regularmente ao público do planetário, quando as atividades presenciais forem retomadas no prédio.
O percurso on-line pela exposição Sertão mundo pode ser feito neste site.
Produção: Alexandre Miranda e Flora Quaresma, sob orientação de Hugo Rafael e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas
https://ufmg.br/comunicacao/noticias/exposicao-virtual-do-espaco-do-conhecimento-explora-multiplicidade-do-sertao-de-guimaraes-rosa