O enredo de O crime do padre Amaro gira em torno de Amaro Vieira, lisboeta, filho de um casal que trabalhara para o marquês de Alegros. Órfão aos 6 anos, é a marquesa quem toma conta dele e o prepara para seguir a carreira eclesiástica. Vivendo entre as criadas, cresce um menino mimado. Quando entra para o seminário, aos 15 anos, é um rapaz física e psicologicamente fraco. Aceita passivamente o sacerdócio, sem demonstrar nenhuma inclinação para esse tipo de vida. Por intermédio de um antigo professor no seminário, o cônego Dias, “mestre de moral”, Amaro obtém a paróquia da cidade de Leiria, no interior de Portugal. Hospeda-se na casa de S. Joaneira, concubina do cônego, viúva e com uma filha, Amélia, uma linda morena de 23 anos. Amélia é seduzida por Amaro, tornando-se sua amante. O cinismo e a imoralidade dos colegas (cônego Dias, padre Natário e padre Brito), que vivem a explorar a ingenuidade e a mente supersticiosa dos fiéis, amortecem a consciência de Amaro, que acaba como eles, não hesitando em satisfazer seus desejos pessoais à custa daqueles a quem deveria servir de guia espiritual e moral. A exceção é o abade Ferrão, o único religioso virtuoso do romance. As beatas de Leiria, porém, não compreendiam sua simplicidade e austeridade e o consideravam um “relaxado”. Sua firmeza de caráter e seriedade no cumprimento da missão sacerdotal põem em evidência a corrupção moral e a hipocrisia dos outros padres, acentuando ainda mais a crítica social de Eça de Queirós. (Texto retirado do Amazon)
Comentário:
Adentraremos na obra de Eça de Queirós captando pistas que se apresentem no enredo da história e que nos permitam discutir, debater, analisar e questionar os aspectos morais que interferem na formação da sociedade e do Direito.
Investigaremos a forte influência da moral religiosa na conduta das pessoas e as origens dessa conduta, bem como suas consequências na formação da sociedade.
Na obra “O Crime de Padre Amaro”, de Eça de Queiròs a forte presença da moral religiosa causa diversos desarranjos morais que nos fazem acreditar que a influencia da religião não seja um aparelho satisfatorio para a devida manutenção da ordem social.
A ordem social exige um certo distanciamento de uma moral que se coloque de forma tão intima e pessoal; é necessário á ordem social um dispositivo moral que esteja ligado ao relacionamento da pessoa com o Estado. Esse dispositivo tem que se apresentar de forma social e não pessoal, como o faz a religião. Por isso a defesa de uma ética civil plena na construção do Direito.
Um Estado laico deve defender a liberdade religiosa a todos os seus cidadãos e não pode permitir a interferência de correntes religiosas em matérias sociopolíticas e culturais. Isso significa que a religião não deve ter essa tão forte presença nos assuntos que acontecem na esfera política. Nos fala Trasferetti que:
“Para que exista ética civil, é preciso que haja uma condição entendida como racionalidade. Esta surge da sociedade leiga e se dirige a uma vida social não regida pela confessionalidade”(TRASFERETTI, 2004, p.43).
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